sábado, 3 de outubro de 2009

OS AQUEMÊNIDAS

Resumo Histórico

A dinastia aquemênida (em persa antigo: Hakhāmanishiya) governou a Pérsia em seu primeiro período monárquico independente (558 - 330 a.C.). Sua linhagem remonta ao rei Aquêmenes (Haxāmanish) da Pérsia. Abaixo, genealogia dos Aquemênidas preparada por Ignacio Seligra Abella.

Os Aquemênidas alcançaram o domínio do oriente médio sob o governo de Ciro II da Pérsia, bisneto de Aquêmenes, quando este subjugou a Média e todas as outras tribos arianas da área do atual Irã conquistando em seguida a Lídia, a Síria, a Babilônia, a Palestina, a Armênia e o Turquestão, fundando o Império Persa. As conquistas foram levadas adiante por seu filho Cambises II, que conquistou o Egito, e Dario I, que expandiu o poderio persa até a Europa, conquistando a Trácia e consolidando seu poder na Anatólia. Neste primeiro período, os governantes aquemênidas caracterizaram sua administração pela tolerância com as diferentes culturas e religiões dos povos conquistados, gerando uma lealdade sem precedentes entre seus súditos. Deve se levar em conta o tratamento terrível que os Assírios e Babilônios (antecessores dos Persas) davam aos povos conquistados, incluindo deportações em massa. Também construíram estradas ligando as principais cidades e um sistema de correios eficiente. As estradas também se destinavam ao comércio do Egito e da Europa com a Índia e a China, do qual a Pérsia muito se beneficiou. Abaixo, mapa do Império Persa sob os Aquemênidas em sua máxima expansão.


Após a tentativa frustrada de Dario de conquistar a Grécia, o império aquemênida começou a declinar. Décadas de golpes, revoltas e assassinatos enfraqueceram o poder da dianstia. Em 333 a.C., os persas já não tinham mais força para suportar as incursões e ataques de Alexandre, o Grande. Sendo assim, em 330 a.C., o último rei aquemênida, Dario III, foi assassinado por um de seus sátrapas, Besso, e o primeiro Império Persa caiu em mãos dos gregos e macedônios. Abaixo mosaico que retrata a Batalha de Isso (333 a.C.)uma das que fizeram parte da queda do Império Aquemênida.


Sistema de Governo
Ainda que dominando muitos povos, a força do Império Aquemênida estava no povo persa de onde eram oriundos os reis (que sempre se orgulharam de sua origem persa). Os persas eram isentos de impostos, mas eram massivamente empregados no exército e na alta administração. Depois dos persas, os medos também eram muito bem empregados na administração e no exército.
A autoridade máxima do Império Persa era o rei (em persa antigo kshayathiya, rei). Devido à vastidão de seus domínios e de estarem tantos povos e seus respectivos reis sob da autoridade do Grande Rei este era chamado de kshayathiya kshayathiyanam, isto é, rei dos reis. O melhor equivalente moderno para o pleno sentido da expressão é a palavra imperador. Abaixo, relevo do palácio de Dario I retratando uma cena típica da corte persa : um nobre (Farnaces) se prostra diante do Grande Rei (Dario I) enquanto o herdeiro real (Xerxes I) está atrás do trono.
O rei era considerado sagrado e vigário da Divindade pelas diversas religiões do Império; sua aparição pública era rara e era considerada benfazeja. O kshayathiya kshayathiyanam era o mantenedor de arta, isto é, a boa ordem do mundo. A importância do Rei dos reis era tamanha que sua sucessão era sempre turbulenta, onde seus filhos e usurpadores procuravam alcançar o poder máximo no maior império que o mundo havia visto até então. Abaixo, ilustração de um rei persa e seu séquito caminhando no palácio real de Susa.
O Império Persa foi organizado sob um sistema de satrápias(províncias). A satrápia (kshathra: reino, país, província) era uma unidade administrativa, geralmente organizada numa base geográfica. O sátrapa (em persa antigo kshathrapavan:“protetor de uma região”, isto é, governador) administrava a região, o general supervisionava o recrutamento militar e a assegurava a ordem e um secretário de Estado mantinha os registros oficiais. O general e o secretário de Estado se reportavam diretamente ao Rei. Abaixo, relevo com a famosa Inscrição de Behistun cujo texto, dentre outras coisas, conta as conquistas de Dario I e lista as vinte e três satrápias sob seu governo.

Durante o reinado de Dario I houve uma codificação dos dados, um sistema jurídico universal sobre o qual muito mais tarde do direito iraniano seria baseado, e a construção de uma nova capital em Persépolis (Parsa), onde estados vassalos iam oferecer seu tributo anual no festival comemorativo do equinócio de primavera. 
A prática da escravidão na Pérsia era geralmente proibida, embora haja evidências de pessoas de povos conquistados ou exércitos rebeldes que foram vendidos em cativeiro. O Zoroastrismo, a religião oficial do império, proíbe explicitamente a escravidão e os reis da Pérsia seguiram esta proibição em graus variados, como evidenciado pela libertação dos judeus na Babilônia e a construção de Persépolis por trabalhadores pagos. Abaixo, ruínas do palácio de Persépolis visitadas por turistas.

O Império estava organizado em vinte e três satrápias que estavam ligadas por uma estrada de 2.500km, a Estrada Real de Susa (no Elam, atual sudoeste do Irã) a Sardes (na Lída, atual oeste da Turquia), construída por ordem de Dario I. Se diz que mensageiros montados a cavalo poderiam chegar a mais remota das áreas em quinze dias. Apesar da relativa independência local oferecida pelo sistema de satrápias, os inspetores reais, os "olhos e ouvidos do rei", percorriam todo o império e informavam-no sobre as condições de cada satrápia. O rei também mantinha uma guarda pessoal de 10.000 homens, chamados de Os Imortais. Abaixo, dois guerreiros persas retratados no palácio de Persépolis.

Dario organizou a economia em um sistema de cunhagem de prata e ouro. O comércio era extenso e sob os Aquemênidas havia uma infra-estrutura eficiente que facilitava a troca de mercadorias até nos confins do império. As tarifas sobre o comércio foi uma das principais fontes da receita do Império Persa, juntamente com a agricultura e os tributos. A principal figura do estandarte dos Aquemênidas era um falcão. Abaixo, estandarte dos Reis Aquemênidas.


Ética e Costumes
O Império da Pérsia, que no auge do seu poder tinha mais de 23 nações sob o seu controle, primava por constituir-se sobre os princípios básicos da verdade e da justiça, princípios que norteavam a cultura aquemênida. Com base na doutrina de Zaratustra (Zoroastro), que tinha forte ênfase na honestidade e integridade, os Aquemênidas tinham credibilidade diante dos antigos persas para governar o mundo, mesmo aos olhos das pessoas pertencentes às nações conquistadas (exceto pelas rebeliões frequentes de jônios, citas, egípcios que resistiam a imposição de uma soberania estrangeira). A tolerância dos Aquemênidas para com a cultura e religião dos povos conquistados (ilustrada na libertação dos judeus do exílio na Babilônia) também contribuíram para a contínua aceitação de sua soberania. Abaixo ilustração de Gustave Doré retratando o Rei Ciro II da Pérsia devolvendo os vasos do templo de Jerusalém aos judeus.



Dizer a verdade era um dos princípios da Pérsia aquemênida; o dito “verdade pelo bem da verdade” foi o mote universal e o cerne da cultura da Pérsia, que foi seguido não apenas pelos grandes reis, mas mesmo os persas comuns, que faziam questão de aderir a este código de conduta. Indícios arqueológicos em Persépolis evidenciam o amor da sociedade aquemênida pela verdade. A mentira, druj, era considerada um pecado capital e era punida com a morte em alguns casos extremos. Heródoto (484 – 425 a.C.) em sua obra História menciona que os persas eram dados a festas de aniversário, nas quais haviam muitas sobremesas, um costume que Heródoto reprovou aos gregos por não tê-lo em suas refeições. Ele também observou que os persas bebiam muito vinho e mesmo bêbados se aconselhavam e deliberavam sobre assuntos importantes, mas decidiam no dia seguinte, quando sóbrios, como agiriam ou não sobre o deliberado. Em seus métodos de saudação, afirma o autor grego, que o beijo na boca era dado entre iguais; nas pessoas com alguma diferença de classe o beijo era na bochecha e as classes mais baixas se prostravam no chão para membros das classes superiores. Abaixo, ilustração de estrangeiro se prostrando ante o Grande Rei.


É sabido que os homens de alta patente praticavam a poligamia e que os reis aquemênidas tinham grandes haréns, embora tivessem uma rainha principal. É debatido, desde a antiguidade, se os persas adotavam certo grau de homossexualismo, principalmente se os reis e nobres praticavam a pederastia. Abaixo, escavações que encontraram o harém de Xerxes em Persépolis.


Idiomas
Durante o reinado de Ciro II (559 – 530)e de Dario I (522 – 486), a sede do governo era em Susa no Elam e o idioma oficial da corte era o elamita, embora o persa antigo não tenha sido de todo esquecido, principalmente no oeste do Irã. Evidências arqueológicas testemunham textos elamitas acompanhados de traduções em persa e acadiano. É provável, portanto, que embora o elamita tenha sido usado pelo governo central em Susa, não era uma linguagem padronizada do governo em todo o império. O uso do elamita não é atestado após 458 a.C. Por fim o aramaico como falado na Mesopotâmia, se não se tornou a língua estatal, tornou-se a língua franca do Império Aquemênida tal qual o inglês modernamente. O uso do aramaico como língua franca do império permitiu sua maior unidade, embora convivesse com os vários idiomas e dialetos dos povos dominados. A Inscrição de Behistun de Dario I foi escrita em persa antigo, acadiano e elamita. Abaixo, o famoso Cilindro de Ciro, escrito em acadiano babilônico cuneiforme, no qual o grande rei narra seus motivos para a conquista da Babilônia.



Religião
Foi durante o período dos Aquemênidas que o zoroastrismo atingiu o sudoeste do Irã, onde veio a ser aceito pelos governantes e através deles se tornou um elemento integrante da cultura persa. Essa religião deriva-se dos ensinos de Zaratustra, profeta persa do século VII a.C.,também conhecido como Zoroastro. O zoroastrismo trouxe uma formalização dos conceitos e das divindades tradicionais do panteão indo-iraniano bem como introduziu novas idéias, incluindo a do livre-arbítrio. Abaixo ilustração do Faravahar, símbolo do zoroastrismo, que representa o estado da alma antes do nascimento e depois da morte.
Sob o patrocínio dos reis da Pérsia que o tornaram religião do Estado, o zoroastrismo atingiu todos os cantos do Império.
Durante o reinado de Artaxerxes I e Dario II, Heródoto escreveu que os persas não tinham imagens dos deuses, nem templos, nem altares e consideravam o uso desses mecanismos religiosos como algum sinal de desatino, embora reverenciassem o sol, a lua, a terra, o fogo, a água e os ventos. Heródoto acreditava que tal postura se devia ao fato dos persas imaginarem a natureza divina diversa da humana, o que contrasta com o pensamento mitológico grego.
Beroso, sacerdote e estudioso babilônico do século III a.C., registra que Artaxerxes II foi o primeiro rei aquemênida a fazer estátuas das divindades e tê-las colocado em templos em muitas das principais cidades do Império. Beroso também testifica junto com Heródoto, que os persas não tinham imagens de deuses até que Artaxerxes II erigiu essas imagens.
Heródoto também observou que "nenhuma oração ou oferta pode ser feita sem a presença de um mago", mas isso não deve ser confundido com o que hoje é compreendido pelo termo ‘mago’, que vem do persa magupat e designava um sacerdote do Zoroastrismo. Os magos tinham um sacerdócio hereditário e eram responsáveis por todos os rituais e cultos religiosos. Abaixo, faravahar em Persépolis.

O livro sagrado é o Avesta que data de 500 a.C. A base do Avesta é um conjunto de hinos (ou gathas) que falam do deus criador Ahura Mazda.
Inclui:
Yasna: liturgia
Khorda Avesta: preces comuns
Visperad: liturgia
Vendidad: mitos, observâncias religiosas.
Essencial à compreensão da religião persa zoroástrica é o dualismo: a eterna luta do bem, representado pelo deus Ahura Mazda, contra o mal, representado por Arimã.

Arte
Arte, como a religião, era uma mistura de muitos elementos. Assim como os Aquemênidas foram tolerantes em matéria de governo e costumes locais, enquanto os persas controlassem a política geral e da administração do império, assim também eram tolerantes em arte, desde que orientado para motivos persas. Em Pasárgada (Pasargad), a capital de Ciro II e Cambises II, e em Persépolis, cidade vizinha fundada por Dario, o Grande, e usada por todos os seus sucessores como capital aquemênida, pode-se traçar uma origem estrangeira, em quase todos os vários detalhes na construção e embelezamento da arquitetura e os relevos esculpidos; porém, a concepção, planejamento e acabamento final são nitidamente persas.Abaixo, ruínas de Persépolis vistas do monte Kuh-i-Rahmat

O estilo artístico aquemênida é particularmente evidente em Persépolis: Com seu cuidado proporcionado e bem organizada planta, rico ornamento arquitetônico e magníficos relevos decorativos, o palácio é um dos grandes legados artísticos do mundo antigo. Na sua arte e arquitetura, Persépolis celebra o rei e a corte do monarca reletindo a percepção de Dario de si mesmo como o líder de um conglomerado de pessoas a quem ele havia dado uma nova e singular identidade. Abaixo, mausoléu de Ciro, o Grande, em Pasárgada seguido de ilustração que retrata sua possível aparência no período aquemênida.


Os Aquemênidas tomaram as formas de arte e as tradições culturais e religiosas de muitos dos antigos povos do Oriente Médio e combinou-os em uma forma peculiar. Pessoas das mais variadas nações foram empregadas com suas habilidades e tradições culturais específicas nas construções dos monumentos e palácios dos Aquemênidas. Materiais e artistas foram transportados de todos os cantos do Império, e assim os gostos, estilos, motivos se misturaram em uma arte e arquitetura eclética que, em se espelhou pelo Império Persa e o entendimento dos Aquemênidas era de que era assim que seu império devia funcionar. Tal empreendimento se tornou marcante e de certo modo original no mundo antigo.

Exemplos da Arte Aquemênida




Guerreiros persas, possivelmente os Imortais, num friso do palácio de Dario em Susa, hoje no Louvre, França.

Copo de ouro proveniente da satrápia da Hircânia

Bracelete de ouro achado na região do rio Oxus, hoje no Museu Britânico.




Exemplares do famosos Tesouro do Oxus

Taça de ouro adornada com a cabeça de um antílope proveniente de Ecbátana, antiga capital da Média.

Esfinge alada do palácio de Dario, o Grande, em Susa

Exemplar único: vasilha em forma de peixe.

Relevo em Persépolis retratando guerreiros medos e persas.

Relevo em Persépolis retratando a entrega de tributos
http://es.wikipedia.org/wiki/Dinastía_Aqueménida
http://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Aquemênida
http://www.juserve.de/rodrigo/atlas%20historico/atlas%20historico.html
http://arteshe-iran.blogspot.com/2008/12/flags-of-iran.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Shah
http://pt.wikipedia.org/wiki/Avesta

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