sábado, 20 de fevereiro de 2010

ARTAXERXES II (404 - 358 a.C.)

Artaxerxes II, cujo nome pessoal é dado como Arsaces (Ctesias F 14 apud Fócio 469,28) ou Arsicas (Ctesias F 15a, apud Plutarco, Artoxerxes 1,4, etc) ou como Oarsēs (vindo do grego ho Arses?) por Dino (F 14, apud Plutarco, op cit..). Ele era o filho mais velho de Dario II e Parisatis, assim, um neto de Artaxerxes I. A dinastia arsácida da Pártia afirmava derivar sua linhagem de Arsaces / Artaxerxes II, de acordo com Georgius Syncellus (1.539.16f. D.). O seu reinado foi o mais longo dos Aquemênidas. Autores gregos, começando com Plutarco, dão-lhe o epíteto de Mnemon "aquele que recorda, que tem uma boa memória", pois parece ter tido uma memória excepcional. Abaixo, dárico do tempo de Artaxerxes II com a efígie estereotipada dos reis persas.

Artaxerxes II nasceu antes da ascensão de seu pai, ca. 453 ou 445 (se o seu tempo de vida é tomado como 86 ou 94 anos, segundo as fontes clássicas). Ele tinha uma irmã mais velha, Amestris, e irmãos mais novos, Ciro, Ostanes (Ctesias chama-o Artostes), Oxathres (Ctesias: Oxendras) e outros (Ctesias F 15, par. 51; Artoxerxes 1,2, 5,5). Ele era casado com a Estatira, filha de Hidernes (Ctesias F 15, par. 55; Artoxerxes 5,6). Com Estatira teve os filhos Dario, Artaxerxes III Oco, Ariaspes e filhas Apama (casada com Farnabazo), Rodogine (casada com Orontes), Amestris e Atossa. De segunda esposa, cujo nome não é conhecido, teve um filho: Arsames. Diz-se que Artaxerxes tinha 360 concubinas e com elas teve115 filhos. Dario foi feito co-regente (e assim reconhecido como aparente sucessor) com a idade de 50, mas posteriormente foi executado por conspiração. Artaxerxes II realizou algumas obras em Ecbátana e em Susa. Abaixo, inscrição em diorita negra na qual Artaxerxes II declara suas ascendência real e pede ajuda não somente ao deus supremo dos persas, Ahura Mazda, mas também a Anahita e Mitra. Em seu longo e conturbado reinado, o Grande Rei se valeu de suas crenças para permanecer no trono.

Plutarco elogia Artaxerxes como justo, brando e afável (cf. Diodoro 15.93.1, Cornélio Nepos, De regibus 1,4). No entanto, ele parece ter sido efeminado, enervado, e facilmente influenciável, fraco, mas também cruel e desconfiado, sucumbido em intrigas de harém. Vigor foi exibido apenas no momento de necessidade; estava atrasado em decidir-se a lutar uma batalha decisiva com Ciro, seu irmão rebelde, mas depois ele participou pessoalmente da luta (Anabasis 1.7.9, 17; 1.8.22ff.; Artoxerxes 7-13). O vigor interno da administração do Império foi enfraquecido por sua ineficiência, e se muitos dos seus problemas tiveram uma solução favorável, foi devido a homens capazes em torno dele como Tisafernes, Farnabazo, Autofradates e, não menos importante, Oco, seu filho, futuro Artaxerxes III. Particularmente forte na corte era a influência de Parisatis, sua mãe que, no entanto, gostava mais de seu filho mais novo, Ciro (Anabasis 1.1.4, Artoxerxes 2,3). Sua esposa, Estatira, filha do nobre persa Hidarnes, também exercia forte influência sobre o rei e rivalizava com Parisatis em influência. Parisatis finalmente conseguiu o envenenamento Estatira (c. 400 a.C.) e foi removida de Susa para a Babilônia, mas ela logo recuperou sua influência sobre o Rei (Ctesias F 27, par. 70; Artoxerxes 19, 23.1-2). Abaixo, traslado da inscrição de um tablete de ouro de Ecbátana onde Artaxerxes II menciona sua linhagem real e pede proteção ao deus Ahura Mazda.

Seu reinado foi um dos mais conturbados do Império Aquemênida marcado pela perda do Egito e por várias revoltas. Quando Dario II morreu em 404 a.C., Artaxerxes foi nomeado rei em conformidade com o desejo de seu pai, embora tivesse nascido antes de Dario II se tornar rei. Parisatis, no entanto, favorecia a Ciro, que havia nascido quando Dario já era rei e assim teria sido o sucessor legítimo (Xenofonte, Anabasis 1.1.3; Diodoro 13.108.1; Artoxerxes 2,4-5; Justino 5.11.1-2), conforme sucedeu com Xerxes I. Os antigos gregos chamavam de "Ciro, o Jovem" (ho neoterós ou deuterocanonicós) para distingui-lo de Ciro, o Grande. Abaixo, palácio de Artaxerxes II em Susa.

Ciro, o Jovem, tinha apenas quinze ou dezesseis anos de idade quando sua mãe conseguiu que ele fosse nomeado sátrapa da Lídia, Grande Frígia e Capadócia (Xenofonte, Anabasis 1.9.7) sucedendo ao sátrapa Tisafernes como comandante-em-chefe (káranos em grego) das tropas estacionadas na planície de Castolo, a leste de Sardes (Xenofonte, Anabasis 1.1.2, 1.9.7, cf. idem, Helênica 1.4.3) tendo assim um poderio muito grande a sua disposição como governador civil e comandante militar supremo da Ásia Menor persa. Isto deve ter ocorrido em 408 ou 407. A partir do momento de sua chegada no Ocidente, Ciro prosseguiu a política de seu pai de assistência a Esparta em sua luta contra Atenas inclusive dando seu apoio financeiro para a construção naval espartana (cf. Tucídides, 2.65.12). Em particular, o almirante espartano Lisandro se tornou seu amigo e, devido à influência de Ciro, Lisandro foi favorecido na sociedade espartana. Em Lisandro Ciro encontrou um homem disposto a ajudá-lo; uma vez que o próprio Lisandro esperava tornar-se governante absoluto da Grécia, com a ajuda do príncipe persa. Ciro colocou então todos os seus meios à disposição de Lisandro na guerra do Peloponeso, mas negou-os ao seu sucessor Calicrátidas. Abaixo, base de uma coluna do palácio de Artaxerxes II em Susa com inscrição referindo-se ao Grande Rei e sua ascedência real.Quando Dario adoeceu e chamou o seu filho ao seu leito de morte, Ciro cedeu todos os seus tesouros a Lisandro e partiu para Susa. Quando da ascensão de Artaxerxes II em 404 a.C., Ciro, que era sátrapa das províncias ocidentais da Ásia Menor (Frígia, Lídia e Capadócia), foi acusado de conspirar contra o seu irmão na cerimônia de coroação, em Pasárgada, por Tisafernes, sátrapa da Cária, que denunciou os planos de Ciro contra o seu irmão(Ctesias F 16, par. 59; Artoxerxes 3,1-6; Justino 5,11. 3-4). Abaixo, testemunho da dominação persa na Frígia: relevo de sacerdotes zoroastrianosem Dascílio (atual Ergili na Turquia).
Nesse mesmo ano (404), Lisandro venceu a batalha de Egospótamos e Esparta tornou-se mais poderosa no mundo grego. Na primavera de 401 a.C., Ciro começou a recrutar um numero exército de mercenários gregos, dizendo que queria atacar os pisídios, uma tribo dos Montes Tauros, que nunca se submetera pacificamente ao Império. Ciro procurou apoio político, o qual encontrou em vários lugares. Esparta arregimentou voluntários autorizados a participar da expedição e Sienesis III, rei da Cilícia que era vassalo persa, contribuiu com dinheiro. Abaixo, guerreiros espartanos (cena do filme Os 300 de Esparta).

Ciro, com um contingente de 30.000 homens (14.000 mil gregos), avançou desde Sardes até a Cilícia, mas os mercenários se revoltaram. Eles estavam começando a suspeitar que o verdadeiro objetivo da campanha era a Pérsia, não a Pisídia. No entanto, Ciro os convenceu de que ele precisava de sua ajuda para uma guerra contra o seu inimigo pessoal o sátrapa Abrocomas, o qual realmente já vinha se preparando contra Ciro, mas não conseguiu deter o avanço do exército de Ciro através da chamada Porta da Síria que abria o caminho pelos Montes Tauros para a Mesopotâmia. Uma frota espartana de 35 trirremes enviada à Cilícia abriu a passagem para a Síria e trouxe-lhe um destacamento espartano de 700 homens sob as ordens de Querisófo. Em Tapsaco, Ciro revelou seu real objetivo: destronar seu irmão e assumir o controle do Império Persa. Através de uma gestão habilidosa e grandes promessas ultrapassou os escrúpulos das tropas gregas contra a duração e o perigo da guerra; com o pagamento dos soldados já levantado, o exército continuou a sua marcha. Ciro avançou pela Babilônia antes de encontrar o inimigo. Tisafernes, que governava a Cária, observando que o exército era grande demais para o propósito declarado, entendeu o verdadeiro objetivo da expedição e havia informado a Artaxerxes, que iniciou a sua própria preparação: o rei reuniu um exército de 60000 mil homens. Abaixo: a Batalha de Cunaxa.
No confronto, conhecido como Batalha de Cunaxa, região onde se deu o embate, Ciro, chegou a ferir a Artaxerxes com sua lança. Segundo Plutarco, no entanto, Ciro foi ferido nas têmporas por um jovem persa chamado Mitrídades e caiu do cavalo. Carregado, foi agredido em seu próprio acampamento por um cariano que o julgara como sendo o inimigo e morreu ao cair e bater com a cabeça em uma pedra. A morte de Ciro foi atribuída a Artaxerxes. Dos gregos, 10.000 tentaram o retorno para a Grécia, evento relatado por Xenofonte em sua célebre Anabasis, mas só 6000 conseguiram. Abaixo, itinerário de Ciro, o Jovem, e seu exército de Sardes a Cunaxa e o curso do retorno dos 10.000 gregos de Cunaxa até Bizâncio.
Não era incomum no Império Aquemênida que, no momento da sucessão de um rei para outro, as nações sujeitas se revoltassem. Amirteu de Sais era o líder de uma revolta egípcia quando da morte de Dario II e a ascensão de Artaxerxes II. Seu avô, também chamado Amirteu, tinha sido o líder de uma rebelião anterior, (463-461), mas Pausiris seu pai tinha chegado a um acordo com os persas e serviu ao Rei Artaxerxes I Longímano com distinção. Amirteu iniciou a revolta em c. 411 a.C. sob Dario II liderando um confronto de guerrilhas na parte ocidental do delta do Nilo, em torno da cidade de Sais (ruínas na imagem abaixo). Após a morte de Dario II declarou-se faraó, o único da XXVIII dinastia (404 a.C.). 

Segundo Isócrates, Artaxerxes II, logo após a ascensão, reuniu um exército na Fenícia liderado por Abrocomes para reconquistar o país rebelde, mas a revolta de Ciro, o Jovem, o impediu de continuar. Embora no delta Amirteu fosse reconhecido como um faraó, no Alto Egito, Artaxerxes II ainda era considerado o rei. Os persas ainda governarão o Alto Egito pelo menos até 400 ou 398. Após 121 anos de dominação aquemênida, os egípcios voltavam a sonhar com sua independência. Mas, o reino de Amirteu não estava seguro. Tucídides diz Amirteu se aliou ao rei dos árabes para evitar um ataque vindo da Fenícia. Amirteu parece ter celebrado uma aliança com Esparta: os gregos iriam invadir a Ásia e o Egito os mandaria grãos. Desta forma, a força do exército persa seria empregada na Ásia e o Egito seria deixado de lado. Diodoro Sículo diz que um almirante egípcio, Tamos, que era sátrapa da Cilícia, durante o reinado de Ciro, o Jovem, fugiu para o Egito em 400 junto com seu filho e a frota e todos os tesouros que carregou. Por fim, Amirteu foi derrotado por Neferites I de Mendes seu sucessor e executado logo após em Mênfis em 399 a.C. Abaixo, trirremes espartanos em batalha naval.

Em 396, os espartanos, que haviam se aliado com Ciro, resolveram aproveitar a aparente debilidade do Império e invadiram a Ásia Menor sob a liderança do Rei Agesilau e dos generais Tibro e Dercílidas. Foram combatidos pelos sátrapas Tisafernes e Farnabazo. Para derrotar os espartanos, Artaxerxes subornou Atenas, Tebas e Corinto, cidades que se levantaram contra Esparta, iniciando a Guerra de Corinto. Tisafernes foi derrotado por Agesilau e executado pelo sátrapa que o substituiu por instigação da rainha-mãe Parisatis. Por alguns anos a sorte da guerra vacilou, mas em agosto de 394 Conon de Atenas, almirante da frota persa, ganhou uma vitória decisiva em Cnido (Xenofonte, Hellenica 4.3.10-12; Deodoro 14. -83.5-7; Cornelius Nepos, Conon). Abaixo, moeda com a efígie do general persa Farnabazo, genro de Artaxerxes II.
Mas a guerra continuou. Em 386 Artaxerxes II, abandonando os seus aliados, fez um pacto com o Esparta chamado de Paz do Rei ou Paz de Antalcidas, embaixador espartano. Esse tratado restabeleceu o controle persa sobre Chipre, Clamonenas e as cidades gregas da Jônia e Eólia na costa da Anatólia (exceto as possessões atenienses) deixando Esparta como potência dominante na Grécia continental. Assim foi garantido o poder persa na Ásia Menor e a influência persa na própria Grécia. A principal tarefa do reinado Artaxerxes II Mnemon foi a manutenção das fronteiras do Império. O Egito desde 404 iniciara seu processo de independência e tem Acoris de Mendes como faraó. Abaixo, esfinge do Faraó Acoris no Museu do Louvre.


A campanha da Pérsia (389-87) liderada por Farnabazo e Titraustes falhou e em 380-79, o rei começou a planejar uma nova expedição usando mercenários gregos. Enquanto isso, os persas subjugam o rei Euagoras de Salamina em Chipre e reprimem rebeldes na Jônia, Paflagônia e em outros lugares. O ataque ao Egito foi realizado em 374-73, sendo o faraó Nectanebo I, mas não conseguiu êxito devido ao desacordo entre os líderes Farnabazo e Ifícrates de Atenas.Em fins da década de 370, não teve êxito a campanha contra os cadúsios que o próprio rei  liderou. A ameaça interna voltou a surgir no Império Aquemênida: é a Revolta dos Sátrapas. O indicativo do desejo de independência desses sátrapas é o fato de cunharem moedas com suas efígies e não com a do Grande Rei. Em 370, o sátrapa da Capadócia, Datames, célebre militar, cai em desgraça diante de Artaxerxes II por força de intrigas palacianas. Revoltado, Datames rejeita a soberania do Grande Rei e passa a governar a Capadócia sozinho. Abaixo, estátua de Mausolo, sátrapa da Cária, famoso pelo seu mausoléu.


Em seguida (367) vários sátrapas se revoltam aliados ao Faraó Tacos do Egito: Ariobarzanes na Frígia Helespontina; Mausolo na Cária, Orontes da Armênia e Autofradates da Lídia. Datames se junta a eles, mas é assassinado em 362. A revolta inteira foi suprimida, mas alguns dos sátrapas foram perdoados e autorizados a regressar às suas satrápias. Em março de 358 morre Artaxerxes II Mnemon, após um longo e conturbado reinado, deixando a seu sucessor Artaxerxes III um grande e poderoso, mas combalido, Império Persa. Abaixo, tumba de Artaxerxes II Mnemon em Persépolis.

REFERÊNCIAS
http://es.wikipedia.org/wiki/Artajerjes_II
http://www.livius.org/am-ao/amyrtaeus/amyrtaeus.html
http://www.livius.org/arl-arz/artaxerxes/artaxerxes_ii_mnemon.html
http://www.livius.org/ct-cz/cyrus_ii/cyrus_ii.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciro,_o_Jovem
http://www.iranica.com/newsite/
http://www.cais-soas.com/CAIS/Images2/Achaemenid/Dascylium/Zoroastrian_priests_Dasc.jpg

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