sábado, 9 de janeiro de 2010

DARIO I, O GRANDE (522 – 486 a.C.) – PARTE III


A mudança repentina no governo central do Império Aquemênida foi percebida pelos líderes dos países submetidos como o momento ideal para a sua independência. Em várias regiões do Império, como Elão, Babilônia, Média, Margiana, Sagartia e na própria Pérsia surgiram usurpadores, que alegavam pertencer, a maioria deles, as dinastias locais que precederam a conquista persa, e dispuseram seus próprios exércitos para enfrentar Dario. No relato de Dario em Behistun o verdadeiro motivo dessas rebeliões foi a drauga, isto é, falsidade. Dario, no entanto, com apenas um pequeno exército de persas e medos e alguns generais fiéis, foi capaz de superar todas essas dificuldades derrotando todos os usurpadores, acabando com todas as rebeliões em pouco tempo e controlar a casta sacerdotal (520 - 519 a.C.). Babilônia (que tinha revoltado duas vezes) e Elão (três levantamentos) foram subjugados e a autoridade de Dario foi restaurada em todo o Império. Acima, reprodução do relevo de Behistun que mostra Dario I, sob a benção de Ahura Mazda e seguido por seu arqueiro Intrafenes e seu lanceiro Gobrias, pisando sobre Gaumata e tendo nove líderes rebeldes sublevados acorrentados diante dele: Da esquerda para a direita: Assina (elamita), Nidintu-Bel (babilônio), Martiya (elamita), Fraortes (meda), Tritantaechmes (sagartiano), Frada (margiano), Vahyazdâta (persa), Arakha (armênio), e Skunkha (saka, uma tribo cita).


A Revolta na Babilônia
Nidintu-Bel (em persa antigo Naditabira) era filho de um oficial babilônico chamado Kin-Zer. 
Nidintu-Bel
Arakha
Seu primeiro ano de “reinado” é mencionado em uma carta escrita em cuneiforme em 3 de outubro de 522 a.C., e pode muito bem ter sido escrita no dia da inauguração de seu reino. Desde a fundação do império, a soberania persa não tinha sido contestada de forma semelhante. Benefeciado pelo exército reunido outrora por Cambises, imediatamente Dario avança contra os rebeldes. Os babilônios foram incapazes de impedir que os persas de cruzarem o Tigre, e em 13 de dezembro, o seu exército foi derrotado. Cinco dias depois, uma segunda batalha aconteceu perto de Zazana sobre o Eufrates, novamente, o exército de Dario foi vitorioso. Nidintu-Bel foi morto quando Dario tomou Babilônia (Heródoto conecta o cerco da Babilônia com a história de Zópiro, general persa). Mas este não foi o fim da revolta. Quando Dario estava na Média para fazer a guerra contra Fraortes, rei rebelde, uma segunda rebelião aconteceu na Babilônia, liderada por Arakha, filho de Haldita, um armênio, que assumiu o nome de trono como Nabucodonosor IV (imagem ao lado). Intafrenes, general de Dario, foi enviado em 521 e desbaratou a rebelião. Arakha e seus homens foram crucificados na Babilônia por ordem de Dario.

A Revolta na Pérsia 
Vahyasdata
Enquanto Dario sufocava a rebelião na Babilônia, várias satrápias se rebelavam. Na Pérsia, o usurpador Vahyazdata, imitando Gaumata, fez-se passar pelo verdadeiro Bardiya e recebeu o reconhecimento do povo. Possivelmente de origem nobre, este usurpador era tão poderoso que chegou a nomear um sátrapa para o país de Aracósia onde já havia um sátrapa, Vivana, que havia sido nomeado por Cambises II e que era leal a Dario. Vahyazdata enviou seu sátrapa com um exército para marchar sobre Vivana.O confronto pode ter tido lugar em Kapisakanish, cidadela da capital da Aracósia, a moderna Kandahar no Afeganistão. A batalha ocorreu em 29 de dezembro 522 a.C. com a vitória de Vivana após alguns dias de assédio, mas não houve uma vitória definitiva. Os rebeldes se reagruparam e batalharam novamente, desta vez em Gandutava. O sátrapa de Vahyazdata fugiu com alguns homens a cavalo para uma fortaleza de Aracósia. Vivana perseguiu a pé e os derrotou em 21 de fevereiro 521 a.C. O lado rebelde perdeu mais de 4.500 homens. Acima, representação de Vahyazdata em Behistun. Por fim, Vahyazdata foi derrotado pelo general de Dario Artavardiya em 24 de maio próximo à Rakha (a moderna Behbehân, Irã), e uma segunda vez em 14 de julho perta da montanha Parga (próxima a cidade de moderna Forg). Vahyazdata foi capturado e crucificado.



A Revolta no Elão
Assina
Martiya
Assina, filho de Upadarma, proclamou-se rei do Elão levantando-se contra o rei Dario I. Embora fosse um elamita, tinha um nome iraniano. A rebelião de Assina provavelmente começou no primeiro dia de outubro de 522. A revolta foi reprimida quase que imediatamente pelo que pode ser deduzido da inscrição de Behistun. Na inscrição, Dario afirma que Assina foi-lhe trazido por correntes, e que ele pessoalmente matou o rebelde. Mas, este não foi o fim da instabilidade na Elão, porque um novo rei continuou a luta, Martiya, persa, filho de Zinzakriš. Seu nome de trono era Ummaniš. Desde que ele não representava qualquer ameaça direta aos interesses vitais de Dario, ele foi deixado de lado por algum tempo governando entre 522 e 521. Mas quando o rei persa passou da Média, onde havia suprimido a rebelião de Fraortes, para a Pérsia, uma parte da população elamita decidiu que era melhor para matar Martiya. Isso deve ter acontecido em junho, o que pode ser deduzido da inscrição de Behistun. Mas, Martiya foi sucedido pelo rei Atamaita, que foi capturado por Gobrias, general persa, no outono de 521, ou no inverno seguinte. Mais uma vez, Dario matou pessoalmente seu rival. 


Revolta na Média
Fraortes
Quando Dario foi suprimiu as rebeliões de Nidintu-Bel e Assina e estava na Babilônia, Fraortes (em persa Frâda), filho de Upadaranma, alcançou tomou o poder na Média. Ele alegou que era um descendente do antigo rei meda Ciaxares e adotou o nome de Khshathrita ao assumir o governo na Média. Ele foi para Ecbátana, a capital da Media, conquistando-a em dezembro de 522 a.C. Fraortes conseguiu simpatizantes na Capadócia e na Armênia na qual houve revoltas. Na mesma época, uma nova rebelião eclodiu no Elão, desta vez sob Martiya, e outras revoltas eclodiram nas províncias da Armênia, da Pártia e da Assíria. Os persas foram incapazes de suprimir a rebelião meda imediatamente. Na inscrição em Behistun, Dario diz que seu general Hidarnes ganhou uma batalha na Marush (Mehriz, ao sul da atual Yazd) em 12 de janeiro 521 a.C. No entanto, essa batalha não foi decisiva e não prejudicou seriamente a posição Fraortes na Média, mas serviu para impedir a invasão da Pérsia pelos medos e impedir de Fraortes fazer contato com outro rebelde, Vahyazdata, para somarem forças. Outro fator a favor de Fraortes era que exército de Dario era formado por tropas medas. Estas tinham servido bem ao rei na Babilônia, mas era improvável que atacassem seu próprio país. Se Dario foi incapaz de estender sua vitória inicial, Fraortes não poderia explorar a situação, já que na Pártia, que era leal à Média, havia uma guarnição persa sob o comando de Histaspes, pai de Dario, que derrotou os partos e seus aliados, os hircanianos. Enquanto os persas da Pártia poderiam atacar sua retaguarda, Fraortes não poderia atacar Dario, que teve tempo para recrutar um novo exército. Na primavera, o líder persa entrou na Média pelo oeste e em 8 de maio 521 derrotou Fraortes em um lugar chamado Kunduru, que é provavelmente a localidade de Behistun. Fraortes fugiu para os partos, mas foi capturado quando estava a caminho do centro religioso dos magos, a cidade de Rhagae (atual Teerã). Dario narra na inscrição de Behistun que ele pessoalmente cortou de Fraortes seu nariz, orelhas e língua, tirou um olho e, por fim, o rebelde meda foi empalado em Ecbátana. Os apoiadores de Fraortes foram esfolados e sua pele recheada com palha. Após esta vitória, Dario foi capaz de enviar tropas para a Armênia e a Pártia, onde seus generais acabaram os rebeldes remanescentes.
Persas e medos

A Revolta em Sagartia
Tritantaechmes
Tritantaechmes (em persa antigo Ciçantakhma) foi rei da Sagartia e revoltou-se em 521 a.C. após a queda de Frortes. Os sagartianos eram uma tribo iraniana nômade que vivia na região da atual cidade de Yazd. Tritantaechmes  continuou a rebelião de Fraortes, alegando como ele, ser um descendente de Ciaxares, rei do outrora independente reino da Média. Tritantaechmes teve um reinado curto. Ele foi derrotado e preso por Takhmaspâda, general de Dario de origem meda, no verão de 521. Dario cortou o nariz e ouvidos do rebelde, arrancou seus olhos e finalmente o crucificou em Arbela. Desde que Dario não menciona que cortou a língua de Tritantaechmes, o tratamento usual de mentirosos, é provável que o líder sagartiano tinha realmente sido um membro da casa real da Média.


As Revoltas em Margiana, na Lídia e dos Citas
Frada
O líder da insurreição em Margiana foi Frada. Visto que Margiana (região do atual Turcomenistão) não era uma parte muito importante do Império Aquemênida, nenhuma ação de imediato foi realizada. No final da primavera de 521, porém, os medos tinham sido derrotados e em julho a rebelião parta havia sido suprimida, apenas algumas operações remanescentes seriam necessárias para restaurar a ordem no Império. Dario enviou o sátrapa da Báctria, Dâdarši, que avançou contra os rebeldes, os quais venceu em 28 de Dezembro, 521, após uma marcha de trezentos quilômetros pelo deserto Karakum. A narrativa de Heródoto indica que Oretes, sátrapa da Lídia, começou a agir de forma independente do governo de Dario que na época estava assoberbado pelas múltiplas revoltas contra seu reinado. Em 522 a.C. Oretes assassinou a Polícrates de Samos que outrora fora aliado dos persas na conquista do Egito (525 a.C.). Ao que tudo indica o assassínio foi perpetrado sem autorização do governo central persa (quer seja de Cambises, Gaumata ou Dario). Oretes já havia mandado matar o sátrapa da Frígia Helespôntica, Mitróbates e seu filho Cranaspes. Oretes, com recursos e homens, agia com um pequeno rei. Quando das lutas de Dario I para assegurar o trono do Império Aquemênida, Oretes talvez tenha se recusado a apoiar com suas tropas a Dario enquanto duraram as rebeliões. Ou ainda Oretes mesmo era um dos rebeldes, apesar de não aparecer como tal no registro de Behistun.. Enfim, Dario quis se vingar de Oretes, possivelmente por ter evidências de sua deslealdade, mas não poderia enviar de imediato um exército contra ele. Oretes era um homem poderoso como governador de terras na Ásia Menor (Lídia, Frígia e Jônia).
Com o grande chapéu pontiaguado, Skunda, líder cita que se rebelou contra Dario I
Então ele enviou Bageo, filho Artontes, com vários documentos carimbados com o selo real para serem lidos em Sardes, capital da Lídia, na presença de Oretes. Dario queria medir a lealdade dos servos do sátrapa. Vendo Bageo que as diferentes ordens foram ouvidas com respeito e obedecidas, abriu o documento que tinha reservado por último no qual se mandava matar Oretes. Imediatamente a ordem foi executada pelos seguranças do sátrapa que mataram Oretes com suas cimitarras. Possivelmente eles tinham ouvido que as rebeliões contra Dario haviam sido suprimidas e não queriam lutar contra o rei. Otanes, leal apoiador de Dario, foi posto como sátrapa da Lídia no lugar de Oretes. Otanes acrescentou a ilha de Samos ao Império Persa e estabeleceu Siloson como tirano (ditador com poder máximo em relação a democracia grega, mas nesse caso subalterno ao rei persa). Por volta de 520/519 a.C., os citas reconheceram Dario como seu novo rei. Após matar um rei cita rebelde, ele capturou um rei cita chamado Skunka  e o substituiu por um outro de acordo com sua vontade. "Em seguida", diz Dario, "a província se tornou minha". Por fim, o governo de Dario I foi estabelecido incontestavelmente e agora havia paz no Império Aquemênida.

REFERÊNCIAS
http://es.wikipedia.org/wiki/Darío_I
http://www.iranica.com/newsite/
http://www.livius.org/da-dd/darius/darius_i_0.html
http://www.mlahanas.de/Greeks/History/DariusIOfPersia1.jpg
http://www.livius.org/va-vh/vahyazdata/vahyazdata.htm
http://www.irantravelingcenter.com/images/bisotoun_inscription.jpg
http://www.livius.org/ne-nn/nidintu-bel/nidintubel.htm
http://ancienthistory.about.com/od/warfareconflictarmor/tp/041908Warriors.htm
http://www.livius.org/person/skunkha/

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